O
Grupo OPNI - coletivo de graffiteiros de São Mateus, zona leste de São Paulo -
irá representar a arte urbana brasileira em Nova Orleans, nos Estados Unidos,
durante o 45º "
New Orleans Jazz & Heritage Festival", considerado
o maior festival de jazz do mundo, que acontecerá entre 25/04 e 04/05 de 2014.
O
festival é um dos eventos culturais mais conhecidos do EUA e todo ano divulga a
diversidade cultural presente em Nova Orleans, cidade com forte influência de
cultura africana e conhecida como a capital do jazz.
Na
edição deste ano, o "Jazz Fest", como é conhecido, homenageia o
Brasil com um espaço especial para a nossa cultura: o "Cultural Exchange
Pavilion", onde alguns artistas convidados irão demonstrar suas músicas,
artes, danças e muito mais.
A
New Era Brasil entrevistou um dos fundadores do
Grupo OPNI quanto à
participação do grupo neste evento e sobre a responsabilidade de representar a
arte urbana brasileira no maior festival de jazz do mundo.
Confira
nosso bate-papo:
1 - A New Era Brasil gostaria de saber
mais sobre o projeto Favela Jazz. A apresentação em Nova Orleans será a
primeira etapa. Vocês já possuem uma
próxima etapa em mente?
R: Nós temos várias ideias, mas o conceito
em si do projeto é fazer um registro de todo esse momento, da experiência, que
é muito rica, para podermos dar uma devolutiva, que talvez seja com exposições.
Temos também um projeto musical com a banda Conde favela (ritmo com uma bela
mescla de musica negra e arte urbana), num formato meio workshop. É um universo
muito rico!
2 - O
Jazz não é um estilo de música muito difundido no Brasil, ao contrário dos EUA.
Caso o projeto Favela Jazz também aconteça aqui, como vocês pretendem dialogar
com público brasileiro?
R: Nossa ideia é justamente popularizar o
jazz, fazendo com que o povo preto e pobre o conheça, porque é dessa classe que
ele surge. O jazz tem essa parada de ser refinado, uma música da classe alta. Mas
somos nós quem o fazemos! Falamos assim de uma forma mais universal e além
disso, neste projeto trabalhamos mesclando o jazz com a arte urbana. Não somos
entendedores do jazz, nem da música, apenas a sentimos. Então é dessa forma...
Fazendo com que as pessoas sintam mais, conheçam a sua história, e se apropriem
dela!
3 - Assim como nas ruas, os festivais
geralmente contam com grande movimento de pessoas. Podemos esperar algo
parecido com o percurso "Galeria a Céu Aberto" no New Orleans Jazz
& Heritage Festival?
R: O graffiti possibilita uma coisa muito
importante nos dias de hoje, que é a troca de experiências, o intercâmbio, que
hoje está se tornando cada vez mais distante. Existem muitas grades, muitos prédios.
É um mundo muito individualizado, cada um dentro do seu smartphone ou seu PC. Então
dentro da nossa caminhada já vimos que a o graffiti é universal porque ele está
na rua e dialoga com todos os públicos: com o rico, o pobre, o novo e o velho.
Então a arte urbana dialoga e interage com todos, diferente da arte que está
dentro de uma galeria, onde não são todos que irão ver.
4 - Como vocês se sentem ao representar
a arte urbana brasileira neste festival, que reúne diversos e diferentes
elementos da nossa cultura?
R: Obviamente que a gente fica feliz por
ser escolhido entre tantos artistas bons que temos aqui. Mas também levamos em
consideração que muitas coisas acontecem ao mesmo tempo, desde sermos
convidados ao maior festival de jazz do mundo até apanhar da nossa própria
polícia. Essas são as contradições. Mas o que chama muita atenção nesse convite
é o fato de que as pessoas que estão ao seu lado não te valorizam e não dão
oportunidade para você expor seu trabalho. Mas essas interações podem vir de
qualquer lugar do mundo, por isso precisamos expandir e tentar levar nosso
trabalho ao máximo de pessoas possíveis. Às vezes estamos sozinhos dentro do
nosso quarto, mas existem em diversos lugares do mundo, pessoas pensando como
você, e por isso existe a necessidade de soltar o sentimento de alguma forma em
algum lugar.
5 - O Grupo OPNI tem forte relação com
a cultura afro-descendente, assim como o Rap e o Jazz. Vocês vêem, de certa
forma, seus trabalhos influenciados pelo Jazz?
R: Com certeza a nossa influência está
totalmente ligada à musica negra, ainda mais quando gente vê de onde surge esse
tipo de música. Temos que dar uma continuidade a tudo isso. Muitos sofreram e
até morreram por nós, e agora é nossa vez de fazer algo também. Então o que
notamos é que estamos interligados em muitos sentidos que às vezes vai além do
movimento cultural que você faça parte.
6 - O que quer dizer a sigla OPNI? Em 17 anos de existência, vocês conseguem
eleger um momento divisor de águas para o grupo? Ou um trabalho de destaque?
R: Hoje pra gente OPNI é um grito que
representa vidas, histórias, lutas, glórias, tristezas e felicidades. Quando
iniciamos era Objetos Pixadores Não Identificados, por conta dos OVNI (Objetos
Voadores Não Identificados). Aí vieram outros significados como: Os Policiais
Nos Incomodam, O Povo Nada Impõe, O Principal Não é Ibope, Orai Pelos Nossos
Irmãos. Tivemos vários significados que íamos colocando em nossos graffitis,
por isso hoje é tudo em apenas um o nome: OPNI!
Em São Mateus temos uma preocupação em
tentar trazer melhorias, trazer mais respeito para nossa comunidade. As pessoas
estão precisando de vida. O que iremos conseguir não sabemos. A única certeza é
que precisamos tentar fazer algo! Talvez quando identificamos isso, foi o nosso
divisor de águas. Temos vários divisores de águas, talvez todo dia tenha um! Porque
às vezes fazemos trabalhos com mais destaque, ou maior no sentido de estrutura.
O que achamos de extrema importância é a necessidade, para pagarmos nossas
contas, e continuarmos fazendo nossas ações, nas quais não temos apoio. Mas com
o tempo vamos identificando que estamos muito apegados em coisas simples, que
talvez sejam muito maior do que um grande evento, como um olhar e um sorriso
sincero de uma senhora da nossa comunidade. Ou como um abraço de uma criança, e
ouví-la dizer obrigado por pintarem meu muro, eu amo vocês!
Mais sobre o Grupo OPNI:
O Grupo OPNI, fundado em 1997,
possui um trabalho característico: em suas ações culturais retratam o cotidiano
periférico, realizando murais e exposições “artivistas”. Um dos principais
projetos do Grupo OPNI é a “Galeria a
Céu Aberto”, onde os artistas mantém desde 2009, em sua comunidade de
origem, um percurso repleto de intervenções, são ruas e vielas graffitadas que
inspiram comunidades e ressignificam um território marcado pela pobreza e
exclusão social.
A relação com a cultura
afro-brasileira é uma característica marcante nos trabalhos do Grupo OPNI. Destacam-se as ações
realizadas junto a comunidades tradicionais e grupos de samba, através do
projeto “Esse Graffiti vai dar Samba”,
tais como o “Berço do Samba de São Mateus”, “Comunidade Toca da Onça”, “Samba
da Maria Cursi”, “Tia Cida”, “Quinteto em Branco e Preto”, “Pagode da 27”,
“Samba da Vela”, entre outros...
Em sua trajetória de 17 anos, o Grupo OPNI: fundou a Rede São Mateus
em Movimento, maior articuladora cultural na região (2008); participou da 1ª
Bienal Internacional Graffiti Fine Art no MUBE (2010); interpretou os painéis
“Guerra e Paz”, de Cândido Portinari, no encerramento da exposição em São Paulo
(2012); recebeu o prêmio de melhor grupo de graffiti no “1º Prêmio Mundo da
Rua” (2012); customizou o tênis do astro americano de basquete, Kobe Bryant, a
partir de um convite da marca Nike (2013); recebeu o prêmio do edital PROAC HIP
HOP nº35/2013 com o projeto “Galeria a Céu Aberto de São Mateus: Graffiti e
Rodas de Conversa” (2013).
Contatos:
(11)
7882-8634 (Aluízio)
(11)
2015-0763 (Leila ou Ana)